Após investigação iniciada no ano passado, a Polícia Federal no Amazonas prendeu nove pessoas suspeitas de abusar sexualmente de meninas indígenas em São Gabriel da Cachoeira,
no município amazonense situado a 852 km de Manaus e na faixa de
fronteira com a Colômbia. Políticos, empresários e comerciantes estão
entre os suspeitos detidos na Operação Cunhantã, realizada na manhã
desta quarta-feira (21). A ação contou com a participação da Força Áerea
e do Exército Brasileiro.
Segundo Fábio Pessoa, delegado da Polícia Federal que
comandou a operação, duas mulheres e sete homens foram presos, sendo
que, entre os detidos, três são comerciantes de uma mesma família. As
duas mulheres, de acordo com a PF, seriam as supostas aliciadoras das
meninas indígenas.
Participaram da operação 45 pessoas, que saíram na manhã desta quarta de Manausem
um avião da Força Aérea Brasileira para São Gabriel da Cachoeira. O
Exército ajudou no deslocamento das equipes até os locais de cumprimento
de mandados de prisão. Ao todo, foram expedidos 11 mandados, sendo
quatro de prisão preventiva, seis de prisão temporária e ainda um de
prisão coercitiva.
Os
sete homens e duas mulheres presos estão sendo trazidos de São Gabriel
da Cachoeira para Manaus em uma aeronave da Força Aérea e devem
desembarcar ainda na tarde desta quarta na capital. “Eles serão ouvidos e
depois serão encaminhados para presídios em Manaus”, informou o
delegado da Polícia Federal.
A
operação Cunhantã surgiu a partir de denúncias sobre a exploração
sexual de menores indígenas na cidade. Inicialmente, havia uma suspeita
da existência de uma rede de pedofilia, mas de acordo com as
investigações da polícia, não há rede organizada.
Exploração Sexual
No
segundo semestre do ano passado, atendendo solicitação do Ministério
Público Federal no Amazonas (MPF-AM), a Polícia Federal instaurou
inquérito para investigar casos de exploração sexual de adolescentes
indígenas em São Gabriel da Cachoeira. A investigação era realizada sob sigilo.
O
município, localizado na faixa de fronteira com a Colômbia, tem
população de maioria indígena, composta por 23 etnias. As denúncias
apontavam que os casos mais frequentes eram de exploração sexual de
garotas indígenas na faixa etária entre 13 e 16 anos. Havia suspeita de
que a virgindade das meninas era negociada em troca de bebidas
alcoólicas ou pequenas quantias de dinheiro.
Ameaças
Por
segurança, durante as investigações três irmãs vítimas dos abusos
sexuais foram encaminhadas para o Programa de Proteção à Criança e ao
Adolescente Ameaçado de Morte.
Ainda durante a investigação em dezembro de 2012, o G1 falou
com uma representante da Fundação Nacional do Índio (Funai), que atua
na coordenação regional Rio Negro – departamento responsável pelas ações
voltadas às populações indígenas na região de São Gabriel da Cachoeira.
Temendo
retaliações dos supostos autores dos abusos, a representante pediu para
não ser identificada, mas revelou que as vítimas e suas respectivas
estavam sendo ameaçadas de morte. As ameaças objetivavam evitar a
colaboração com as investigações.
“Alguns
órgãos não governamentais tomarão a frente para cobrar a investigação
desses casos de exploração sexual de meninas indígenas, que ocorrem há
muitos anos. É uma situação muito delicada porque envolve um
compactuação de órgãos públicos e pessoas influentes no município. De
fato as ameaças acontecem, nós sabemos. A Funai não tem missão de
investigar, somente acompanhar. De maneira informal, tomamos
conhecimento que os envolvidos ofereceram dinheiro as famílias das
vítimas para retirarem as queixas registradas na polícia”, revelou a
servidora da Funai ao G1.
Para
a representante, as dificuldades logísticas e o isolamento da região
colaboram para ocorrência desse tipo de abuso sexual envolvendo
populações indígenas. De Manaus para são Gabriel da Cachoeira de
transporte aquaviário são necessários três dias navegando de barco.
“Moradores indígenas ou não do município ficam à mercê desse ciclo de
poder”, enfatizou.
G1
G1
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