terça-feira, 6 de abril de 2010

UM CORAÇÃO PARA AMAR!

Quando a terra tremeu no Haiti, uma espada de dor atravessou o coração da humanidade! Como, de uma hora para outra, milhares de pessoas simplesmente deixaram de existir? Como, instantaneamente, chegaram ao fim tantas histórias, projetos, promessas, recordações? Como? Por quê? No Haiti, viveu-se a experiência inversa da Criação: foi o caos que se tornou realidade, sem nenhum “faça-se!”. Tudo voltava a ser informe e vazio...

Havia, porém, uma semente de amor, profundamente plantada naquele lugar desolado. Há cerca de três décadas estão lá as Irmãs do Imaculado Coração de Maria, assumindo a grande missão que a elas foi confiada. Vivendo em terras haitianas, tem feito brotar vocações, serviço, fraternidade e solidariedade entre o povo que as adotou. Fiéis ao carisma de Bárbara Maix, cuidam da educação de crianças e da assistência aos pobres daquela terra empobrecida. O terremoto ocorrido no início de 2010 foi uma tragédia, mas, ao mesmo tempo, pode se tornar momento de re-criação: assim como Deus cria “do nada”, as filhas de Bárbara criam “do improvável”, pois assim também foi a vida e a vocação da Serva de Deus.

Diante deste quadro, o Colégio Mãe de Deus organizou, no dia da memória da morte da fundadora – que ganhou, entre nós, o nome carinhoso de “Dia do Perdão” – uma forma de se comunicar com esta realidade, distante e perto de nós, aqui em Porto Alegre. Bárbara sempre nos remete ao coração: coração aberto, todo-espaço para ser preenchido pelo Espírito da Vida; coração de alegria, ao reconhecer a Graça de Deus sendo correspondida e crescendo no próximo; coração triste, que responde aos pesares da vida com o perdão, sempre, por tudo e a todos; coração-silêncio, diante do mistério revelado pelo Deus-Amor nos detalhes do cotidiano. Bárbara-Coração. Um coração para amar, como canta o Padre Zezinho! Pois bem: queríamos um coração infinito, onde coubesse toda nossa solidariedade e todas as nossas orações. Nossa tentativa resultou em um papel vermelho, na forma estilizada de coração, com a imagem de Bárbara no centro. Um símbolo: sinal visível que reúne realidades invisíveis. Este coração foi passando por salas de aula, olhos e mãos em nossa escola. Enquanto passava, ia sendo preenchido. Letras de recém-alfabetizados se misturavam a escritas de jovens do Ensino Médio; frases de crianças colocadas ao lado de citações literárias; turmas que assinavam juntas e educadores que assinavam embaixo. Em tudo, Bárbara. No todo, o Colégio Mãe de Deus. Este coração tem um destino certo: a comunidade Bárbara Maix, no Haiti.

Nosso coração não reverterá as perdas do terremoto, mas poderá ajudar a reconstituir a coragem aos que estiverem fraquejando. Nenhuma vida perdida será recuperada por nosso coração, mas pode ser que, com ele, todas as vidas sejam lembradas, para que nenhuma mais se perca. Nosso coração não resgatará ninguém dos escombros, nem matará a fome do povo, mas é enviado com o desejo de que os braços se fortaleçam para alcançar comida aos famintos e puxar para fora de seus sepulcros os Lázaros que anseiam por luz. Eis o nosso coração: frágil e forte, mais do que aparenta ser e menos do que ainda podemos fazer. Coração da Mãe de Deus. Coração que é “sim” para o Pai.

Renato Ferreira Machado
Coordenador do Serviço de Pastoral Escolar
Colégio Mãe de Deus – Porto Alegre / RS

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