Jorge Alexandre Alves
Sociólogo e Professor da Escola Pio XII
Sociólogo e Professor da Escola Pio XII
Sábado, dia 21 de julho, aconteceu mais um Seminário de Educação da Escola Pio XII, encerrando a jornada pedagógica realizada nessa Instituição de Ensino. Dessa vez, a reflexão foi feita em torno do tema “Gênero - Uma abordagem sócio afetiva na Defesa e Promoção da Vida”, com a assessoria qualificada da Irmã Eurides Alves de Oliveira – ICM, que é formada em Ciências Sociais e tem grande experiência com Educação Popular. Ela interpelou a comunidade educativa sobre questões tão profundas e que muitas vezes não refletimos em nosso cotidiano.
Primeiramente, refletiu-se que a nossa identidade de gênero é construída socialmente, em um contexto histórico-cultural específico. Em outras palavras, tal identidade é definida simbolicamente através da cultura na qual estamos inseridos/as, estabelecendo relações uns com os outros. Então, ao se falar desse conceito, estamos falando não só de mulheres, mas de RELAÇÕES: Relações entre mulheres e homens, mulheres e mulheres, homens e homens... São essas conexões que definem a construção dos processos de formação da feminilidade e da masculinidade construídos por um grupo social.
Fica evidente que o conceito de Gênero, tendo uma perspectiva sociocultural, é bem diferente de sexo. Este último é biológico, diz respeito as diferenças anatômicas e fisiológicas, bem como a atividade sexual. Dessa forma, é fundamental desnaturalizar as diferenças sociais de sexo, pois tal fenômeno sustenta as desigualdades e assimetrias de gênero presentes no mito da superioridade masculina e da inferioridade feminina, por exemplo.
Todavia, nos alertava Ir. Eurides, “é preciso lembrar ainda que a construção dos gêneros envolve o corpo, implica corpos sexuados e necessário é evitar a polarização natural/social, compreendendo que o gênero também têm uma dimensão e uma expressão biológica”. Assim, o social e o biológico se misturam, e nossa percepção acerca de gênero deve supor que isto ocorra. Portanto, trata-se do sentido, o significado que atribuímos ao corpo sexuado que temos.
Além disso, vimos que gênero também é uma representação cujo significado varia conforme a sociedade e a época. Mesmo dentro de uma sociedade, a construção do feminino e do masculino se modifica conforme a classe, a religião, a etnia, a idade, o lugar geográfico, as instituições sociais, etc... Os conceitos de masculino e feminino se transformam ao longo do tempo. Não há uma “essência” feminina (ou masculina) natural, universal e imutável.
Através de imagens e de um vídeo, percebemos como essas identidades são estabelecidas e reproduzidas de acordo com interesses que nem sempre são os mais nobres e construtivos. Em uma sociedade de mercado, pautada no consumo e no individualismo, se reproduz um modelo de dominação de gênero que são refletidas por práticas internalizadas por homens e mulheres. Constatamos que muitas vezes a gente mesmo reproduz essas construções e, sem nos darmos conta, afirmamos o machismo dominante.
Dessa forma, as relações de gênero são produto de um processo pedagógico que se inicia no nascimento e continua ao longo de toda a vida, reforçando a desigualdade existente entre homens e mulheres, principalmente em torno a quatro eixos: a sexualidade, a reprodução, a divisão sexual do trabalho e o âmbito público/cidadania. Nossa identidade de gênero também implica em uma construção política e ética, que está relacionada a uma visão de mundo, de valores morais, de relações de poder, na qual os interesses de mercado e a mídia tentam pautar a sociedade. Mas passa também pelo reconhecimento, defesa e conquista de direitos, sendo uma questão de cidadania e justiça social.
Também verificamos que a Escola é um agente eficaz na construção das relações de gênero. No espaço escolar, tanto pode-se contribuir para perpetuar a cultura sexista pautada nas desigualdades de gênero, deixando passar despercebidas situações vividas na sala de aula, como também pode contribuir para transformar esta realidade. Esse potencial da escola constitui um grande desafio a todos nós educadores e educadoras.
Finalmente, ao olharmos para a vida e o legado de nossa Bem-aventurada Bárbara Maix, fundadora da Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria, constatamos a mulher a frente de seu tempo que ela foi. Defendendo a integridade e a dignidade das mulheres, propõe uma ação verdadeiramente educativa e transformadora da condição feminina. Pensando na formação das moças em um tempo no qual nem se sonhava em discutir gênero, a partir dos valores cristãos, Bárbara anteviu uma nova construção do gênero feminino, mais protagonista e ativo na sociedade.
Esse seminário foi um dos melhores que já realizamos na Escola Pio XII, com uma assessoria qualificada, simples e ao mesmo tempo densa. Foi um momento feliz em nosso ano letivo, onde tivemos a oportunidade de, relacionando teoria e prática cotidiana, vislumbrar um novo patamar para construir as nossas inter-relações de gênero. Enfim, um belo fechamento de semestre.
Saiba Mais
Escola Pio XII
Rio de Janeiro - RJ
Site: www.escolapioxii.g12.br
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